terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Andalucia Bike Race - Dia #2 "Pré-lavagem"


E pronto, cá estou eu de novo, o que significa que pelo menos sobrevivi à etapa de hoje.
Mas posso vos dizer que já tive melhores dias. Aliás, acho que até posso dizer que há mais de um ano que não tinha um dia pior que este! E o que me preocupa mais é que, pelo que me disseram por quem já fez edições anteriores desta prova, o pior (pelo menos para mim) ainda está para vir!
A etapa de hoje começou da maneira habitual, ou seja, rápida e logo com uma “boa” subida nos primeiros 20 quilómetros. Para a Team GoldNutrition/Portugal, ou seja, para mim e para o José Rosa, até é a melhor maneira de começar as etapas, pois ganhamos logo um avanço considerável face à concorrência e que nos permite depois, nos trilhos mais técnicos, não arriscar tanto. E assim foi, no primeiro posto de cronometragem, que ficava muito quase no final da primeira subida, ao km23, já levávamos mais de 6 minutos para a segunda equipa Master. 
Mas já nessa subida, sobretudo nos últimos 5km o verde da vegetação e das árvores começou a dar lugar ao cinzento das pedras. Parecia que estávamos a entrar noutro planeta. Esta subida que até aí era quase toda ela composta por estradões, por vezes rampas com mais de 15-20%, começou a estreitar até caber apenas ...meio pneu da bicicleta. Além da habitual dificuldade que é subir, juntou-se a agravante de fazer equilibro em cima da bike, e por vezes transpormos algumas pedras mais altas. Isto tudo quando já vínhamos a subir há mais de 45 minutos. A reação e o discernimento já não abundam, e a força de braços e pernas também já escasseia.
Como se não bastasse, as minhas costas, sobretudo zona lombar também já se queixava. Mas enquanto era a subir, e apesar do sofrimento inerente, estávamos em vantagem sobre os adversários, e o risco de cair e me magoar era quase nulo. A velocidade também era menor. Mesmo assim ainda virei a cabeça para a direita e tirei as medidas ao precipício que estava ali a cerca de 20 centímetros de nós.
Mas bem pior, pelo menos para mim, foi quando o terreno mudou o seu ângulo de positivo para negativo! Ah, e as pedras? Pareciam rebentos a nascer do solo! Como alfaces, fresquinhas e húmidas! Só que bem mais rijas e pontiagudas!  Aliás, podem ver o video que publiquei no meu canal Youtube que mostra um pouco dessa descida (http://youtu.be/jgjPClnc9Pw?list=PL746CFDFD01882AE8).
Bem, acho que não preciso de voltar a dizer que sou “pato bravo” no BTT. Admito! Não sei controlar a bicicleta em trilhos técnicos.
Nesta primeira descida técnica, que teria uns 4 km, devo ter feito 3km em cima da bike, e 1km ela em cima de mim. Bendita hora que me lembrei de trocar de sapatos! Hoje, em vez dos Scott Premium que têm uma sola com índice 10 de rigidez, e pouca borracha, optei pelos Scott RC, que têm mais sola e menos rigidez. Senão acho a única forma de fazer aquela descida seria a rebolar. Mesmo assim sofri uma queda, mas sem consequências. Mas confesso que fiquei agradado quando não fui só eu a ter dificuldades e a cair nesta descida. Sempre atenua um pouco o meu fardo de ser “aselha” 
O meu colega caiu duas vezes nesta descida, mas acho que levantou-se mais rápido com que caiu, lol.
A segunda metade da etapa já era tecnicamente mais acessível, mas por incrível que pareça ainda conseguiram aumentar o grau de exigência física. Rampas com mais de 20% em piso irregular e com pouca aderência!
Algumas vezes o esforço para pedalar era tanto que compensava mais subir a pé. Eu que até gosto de subir, confesso que já estava farto! Queria descidas em estradões e ver Jaén o mais rápido possível. 
A cerca de 20km da chegada, esse desejo foi-me satisfeito. Uma descida com cerca de 12km em gravilha solta foi feita a alta velocidade. Nas curvas em gancho ainda me fugiu a roda da frente duas ou três vezes, mas comparado com aquilo que tinha passado cerca de duas horas atrás, até me deu alguma pica, já que era um risco mais controlado.
Os últimos 5km eram exatamente iguais aos das etapas anteriores. A cerca de 2km da chegada, passávamos uma ponte metálica que ligava as extremidades de um riacho. Sorte ou aselhice a minha, o meu pedal direito bate numa estaca que estava à entrada dessa ponte. A bicicleta dá uma guinada e aí vai o Vitor ao rio! A queda não foi mais que de um metro de altura, mas a água estava gelada!
Rapidamente me levanto e confirmo se estou inteiro. Bem, já estive melhor! O meu joelho direito ficou raspado, e....começo a rir. A parte da frente dos meus calções tinha simplesmente desaparecido! Nessa altura já não sabia se havia de rir ou de chorar. Rir porque não sabia como iria fazer os 2km que faltavam da etapa sem dar muito nas vistas (para quem não sabe, os ciclistas não usam cuecas por debaixo dos calções), ou chorar porque tinha caído mais uma vez para direita e o joelho magoado era o do costume.
Montei-me em cima da bicicleta, o José Rosa e o Milton Ramos, este tinha sido alcançado por nós a 10km da chegada, perguntam-me se está tudo bem, mas a rir! Não os critico, porque eu também ria a bom rir.
Felizmente levava uma camisola interior da Compressport, que são muito compridas e elásticas. Puxei a camisola para baixo o máximo possível, e enrolei o meu “abono de família” smile emoticon E fiz assim o resto da etapa, rezando para que não me tirassem muitas fotos. 
Mal cortei a meta, fui de imediato buscar o meu saco para vestir umas calças que estavam preparadas para ir ao pódio.
Ao trocar de roupa apercebi-me também que aquela ida ao rio tinha servido de pré-lavagem, pois a roupa estava quase limpa. 
Ah, para os mais curiosos. O meu “abono de família” parece que está bem. Apenas uns pequenos arranhões 
Mais alguns pontos:
1º No que respeita à parte mais desportiva, apesar de tudo voltámos a vencer a etapa e ampliámos a nossa vantagem para cerca de 25 minutos. Por aqui tudo bem.
2º Andalucia Bike Race é outra prova a não repetir. Quem gosta de técnica ao limite (no que respeita a maratonas), aconselho. Se forem como eu, em que preferem dar prioridade à parte da performance física, hummm, há outras aventuras bem mais interessantes.
3º José Rosa: aquela máquina! Já chegámos á conclusão que ele sofre mais na minha roda do que se for ele a puxar. Resultado: numa etapa como a de hoje, que teve 75km, ele puxa uns 50km, e eu os outros 25.
Amanhã a etapa tem “apenas” 50km e ...2017 de subida acumulada. E segundo as previsões, a tendência é a exigência técnica ser cada vez mais alta à medida que os dias vão passando! Mais ainda?!





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