segunda-feira, 23 de março de 2015

Absa Cape Epic 2015 - "FIM"


E terminou! A minha oitava grande aventura em BTT. Depois da Titan Desert, Bike Transalp, TransPortugal (2x), Brasil RideAndalucía Bike Race, agora foi a vez da Absa Cape Epic (África do Sul). 

É curioso que cada nova aventura que faço, a intensidade das emoções e as vivências são cada vez maiores. A Absa Cape Epic foi, para mim, a prova mais emotiva, a mais sofrida, a mais atribulada, e que mais custou a preparar, a nível logístico, financeiro e físico. 
Foi também a que mais gente envolveu, e a que mais interação gerou nas redes sociais. 
Mas aqui não estou a incluir a minha loucura de ter participado na Volta a Portugal do ano passado, 10 anos depois de terminada a minha carreira e já com 44 anos de idade. Esta bateu todos os recordes!
Sempre disse que participar na Cape Epic não era uma das minhas prioridades. Já tinha estado em África do Sul por duas vezes a competir, em 1991 e 1995. Mas numa competição de estrada equivalente à Volta Portugal – a Rapport Tour. Lembrava-me ainda das paisagens, da cultura, e sobretudo das longas horas de viagem de avião. Acredito que há outras aventuras em BTT mais interessantes e sobretudo mais económicas que ainda me falta fazer.

Mas também já o disse algumas vezes que uma das principais razões de eu embarcar nestas aventuras é para “alimentar” as minhas redes sociais, e partilhar as minhas experiências com todos vós. Dá-me um gozo enorme fazê-lo!
Claro que gosto da adrenalina da competição, que gosto de conhecer novos locais e novas pessoas. Mas asseguro-vos que o sacrifício que exige uma preparação para cada uma destas aventuras, as privações, e o investimento em tempo e dinheiro, levariam-me a pensar duas ou três vezes antes de me atirar de cabeça. Ainda mais que privações semelhantes já eu tive durante quase 20 anos de carreira como ciclista.

Foram vocês que me ajudaram a decidir qual o desafio para este ano, quando em Setembro do ano passado fiz um pequeno inquérito no Facebook a perguntar qual a próxima prova de BTT internacional que eu deveria fazer. Mais de 60% respondeu Cape Epic. 
E porquê a Cape Epic? Acredito que por ser a mais mediática e considerada a melhor prova de BTT por etapas do mundo. Mas também uma das mais dispendiosas!
Que assim seja! De imediato pus-me a fazer contas ao orçamento. Falei com alguns amigos que já fizeram a prova e cheguei à conclusão que para participar nesta prova iria precisar de uma grande ajuda financeira, e claro, de um colega de equipa. Primeiro falei com a minha entidade patronal. Se a GoldNutrition podia ser o principal patrocinador. De imediato disseram que sim. Além de fornecerem 50% do orçamento necessário, ainda tiveram que me dispensar durante as duas semanas que tive por terras de África.

Em relação ao resto do orçamento necessário, decidi aceitar a sugestão de alguns seguidores e fazer uma campanha de crowdfunding. Uma ferramenta que nunca tinha utilizado mas que veio a ser um sucesso. Com a ajuda de muitos de vós, em duas semanas conseguimos a verba necessária para cobrir o resto do orçamento em falta. Com isto conseguimos reunir cerca de 600 patrocinadores, e ainda angariar 1200 euros para ajudar a melhorar a qualidade de vida do piloto português de motocross Henrique Venda, que sofreu um grave acidente em competição
O colega também já tinha sido escolhido. O José Rosa, atual campeão nacional de maratona no escalão Master, e meu colega de equipa no inicio dos anos 90, de imediato disse que sim.
Com o objetivo definido e a verba necessária conseguida, a preparação física e mental teria que começar. E começou. Como parte da preparação, participámos na Andalucia Bike Race, uma prova de 6 dias com um nível físico e técnico dos mais elevados a nível internacional. A nível de resultado foi bem melhor do que esperávamos, pois vencemos a nossa categoria (master) por larga vantagem. Mas uma queda acabou por prejudicar a minha preparação para a Cape Epic. Estive duas semanas a fazer tratamento a um joelho e quase sem poder treinar. Nada que já não estivesse acostumado, pois ainda o ano passado a minha preparação para a Volta a Portugal tinha sofrido um grande atraso devido também a uma lesão no outro joelho originada por uma queda na Brasil Ride no final de 2013.

Mas com a ajuda dos excelentes profissionais da Fisiotorres, a recuperação do joelho foi relativamente rápida e bem sucedida, e assim as expectativas e ambição mantiveram-se em alta no que respeita a lutarmos por um lugar no pódio na categoria master, naquela que é considerada a prova mais importante do calendário mundial de BTT. Mesmo sabendo que a concorrência era fortíssima. A maioria dela ainda faz do BTT a sua vida profissional.

Quatro dias antes do inicio da Absa Cape Epic viajámos para Cape Town (África do Sul), de forma a ambientarmo-nos com o clima, pois em Portugal ainda era inverno e em África do Sul as temperaturas rondavam os 30ºC. Ficámos esses dias prévios em Stellenbosch, uma pacata cidade a cerca 50km de Cape Town, com alojamentos mais económicos e estradas mais calmas para treinarmos. Aqui um agradecimento ao amigo Pedro Duque, por nos ter colocado em contacto com o Songo Fipaza que se encarregou do nosso transfer do aeroporto para Stellenbosch.

Os 4 dias nesta cidade foram impecáveis. Deu para treinar (pouco), deu para assistir à Champions Race, um evento solidário organizado pelo Songo, com a presença das várias estrelas profissionais que mais tarde participaram na Cape Epic. Mas o ponto mais alto foi mesmo o jantar com a comunidade portuguesa, intitulada “Academia do Bacalhau”. Um jantar que se prolongou até bem tarde. Aliás, acho que por vontade deles a esta hora ainda lá estávamos a beber shots de Grappa. LOL. Por momentos até nos esquecemos que estávamos ali para participar num evento desportivo.

Na véspera do inicio da Cape Epic, um dos nossos mais recentes amigos, o Romão, residente em Cape Town, fez o favor de nos ir buscar a Stellenbosch e levarmos ao hotel, em Cape Town, onde iriamos ficar instalados. Como se não bastasse ainda andou connosco o dia todo para o caso de precisarmos de alguma coisa. Nesse dia juntaram-se mais dois portugueses que fizeram cerca de 1200km para nos ver e dar um apoio moral durante o prólogo que iria ser disputado no dia seguinte. Terá sido isto o que mais me impressionou e me emocionou. O carinho e apoiou incondicional de todos os portugueses a fazer a sua vida longe da pátria. Em momento algum nos sentimos sós ou desamparados. 

Antes do tiro de partida estava com muitas dúvidas em relação à minha condição física. Se o meu joelho iria aguentar, se as duas semanas que estive quase sem treinar iriam ser muito prejudiciais. Por parte do meu parceiro José Rosa, sabia que ele estava preparadíssimo, mesmo sendo a sua primeira aventura desta envergadura em BTT.

Ouço ou leio quase diariamente que não tenho nada a provar. Sim, eu sei, pode ser que um dia mude a minha forma de estar, mas neste momento ainda sou demasiado competitivo. E quando apontei a Cape Epic como objectivo para este ano, não seria unicamente para passear. Queria um classificação de destaque. Foi para isso que me sujeitei a treinar muitas vezes de madrugada, outras vezes já de noite, que me submeti a dietas ou que prescindi de momentos de laser com a família, ou até de uns copos com os amigos.


No prólogo senti-me excelentemente. Não fora o meu companheiro não se dar bem com esforços mais curtos e mais intensos e possivelmente teríamos lutado pela vitória nesta primeira etapa. Mesmo assim fizemos 3º. Aliás, foi o primeiro pódio dos 4 que conseguimos em etapas. Mas todos eles de 3º lugar.
Sobre cada uma das etapas já falei em crónicas anteriores. Houve etapas que disse mal de tudo e de todos, inclusive da minha decisão de participar na Cape Epic. Houve etapas que me diverti como uma criança na Disneyland, outras que chorei sangue, suor e lágrimas. 

Em resumo, descobri porque a Absa Cape Epic é especial. De uma forma ou de outra, leva todos os participantes, familiares, staff e público a sentirem intensamente cada momento. Umas vezes de alegria, outras de tristeza ou angústia. São as emoções à flor da pele.

Mas não é uma prova perfeita. Há aventuras de BTT com paisagens mais espetaculares, há aventuras mais económicas, há aventuras com melhores condições para os participantes, há aventuras com mais exigência física e técnica. Mas a Absa Cape Epic será a que consegue um melhor equilíbrio entre todos estes factores, juntando ainda o mediatismo e o retorno que mais nenhuma consegue atualmente, sobretudo para quem depende de patrocinadores.

Destacando seis aspectos que me pareceram mais positivos:
1º Mesmo os trilhos mais técnicos e assinalados com placas como perigosos, eram acessíveis a todos os participantes. Raramente passámos por trilhos que colocassem em risco a nossa integridade física. 
2º As dezenas e dezenas de quilómetros de singletracks (cicláveis). Pura diversão!
3º A higiene dos acampamentos, nomeadamente dos balneários e WC’s. Sempre um “brinco” e em quantidade suficiente para os 1200 participantes e ainda o todo o staff!
4º A quantidade de zonas lounge ou “Chill Zone”, ou seja, locais à sombra com cadeiras, espaldares, colchões, onde os atletas podiam descansar durante as tardes de calor em que era impossível estarmos dentro das nossas tendas devido ao calor. 
5º O serviço de internet (wi-fi) disponibilizado pela organização funcionava impecável em quase todo o acampamento. 

E agora cinco pontos que poderia ter sido melhor:
1º A comida, poderia ser mais variada. Ao terceiro dia já não podia ver borrego estufado e lasanha de galinha, ao jantar! E ao pequeno-almoço, papas de aveia e pão de forma torrado no dia anterior com manteiga de amendoim e/ou fatias de queijo!
2º A quantidade de poeira que engoli durante este oito dias, não será culpa da organização, de qualquer forma para mim é um aspecto negativo dos trilhos desta região. Além do pó, também demasiada areia.
3º A falta de informação aos participantes. Sobretudo no último dia, preocuparam-se em fornecer um bom espetáculo aos milhares de público que estava presente em Meerendal, e esqueceram-se em facilitar a vida dos participantes, que chegavam completamente desgastados de 8 dias de BTT duríssimos e não sabiam onde eram os banhos, ou o que fazer com os sacos das bicicletas. Nem o staff sabia! Aliás, nesse dia éramos para ir ao pódio para receber o 4º troféu de 3º lugar na etapa e não chegámos a descobrir quando e onde foi essa cerimónia. Nos dias anteriores tinha sido durante os jantares.
4º A organização encarregava-se de lavar as nossas bicicletas assim que chegávamos. Mas quase sempre tivemos que finalizar esse serviço com um pano.
5º Havia apenas uma zona com tomadas elétricas, talvez umas 10, para carregarmos os nossos aparelhos, originando por vezes grandes filas de espera.

Contabilisticamente, eu sofri uma queda, e o Zé duas. Qualquer uma das três deixou-nos mossas e impediram que lutássemos por um lugar no pódio.
Por outro lado, não tivemos uma única avaria mecânica, a não ser as originadas pelas quedas! Não tivemos um único furo, não partimos nenhuma corrente ou qualquer outro material. Os pneus escolhidos foram uma excelente opção – Continental Race King Protection 2.2, tanto atrás como à frente. Claro que após 750km e com tanta pedra que apanhámos, estão nas lonas! 


A escolha dos andamentos também terá sido a melhor. Enquanto na Andalucia Bike Race levámos o prato 32 (XX1) e 10-42 atrás. Para a Cape Epic optámos pelo 34. É certo que por vezes a força que tínhamos que fazer em algumas subidas mais íngremes era brutal, mas sem o 34 iriamos ter muita dificuldade em andar com o pelotão da frente nos trilhos mais planos, em que chegávamos a rolar a mais de 35-40km/h.

Como devem saber eu utilizei a Scott Spark, uma bike de suspensão total. Já o Zé usou a Scale (hardtail). Houve dias que só ouvia o Zé gritar a meio das etapas: “Eu quero uma Spark!!!!!”. De facto a longa extensão das etapas, a quantidade de pedra que apanhámos, associada à velocidade que se anda em pelotão, que a melhor escolha para esta prova é mesmo uma bicicleta de suspensão total. Aliás mais de 70% dos participantes opta por este modelo.

A última etapa desta edição terminou no mesmo local onde começou em edições anteriores. Uma quinta vinícola muito conhecida – Meerendal. À chegada tínhamos vários portugueses à nossa espera, não só para festejarem connosco, mas também para nos ajudarem a arrumar tudo e a fazer o transfer para o hotel onde pernoitámos a última noite em Cape Town. Mais uma vez o Romão, juntamente com o Miguel Coelho e o Rui Afonso foram incansáveis.

Com a ajuda deles fomos dos primeiros a chegar ao hotel Commodore de forma a descansarmos um pouco antes do jantar de encerramento preparado pela organização.
No Domingo às 19h00 já estávamos no restaurante, para festejar e despedirmo-nos desta participação na Cape Epic. 

O nosso voo de regresso a Portugal estava marcado para o final da tarde de segunda-feira. Como ainda tínhamos a manhã livre, a Sonya Alves ofereceu-se para nos levar a conhecer uma das 7 maravilhas naturais do mundo – a Table Mountain. Esta portuguesa a residir em Cape Town foi também incansável no apoio que nos deu durante toda a nossa estadia.

No fundo, e apesar de não termos oficialmente uma equipa técnica de apoio à nossa volta, tivemos um bom grupo de amigos que fez tudo o que esteve ao seu alcance para que tivéssemos uma presença mais condigna nesta aventura.

Parece que foi ontem que fizemos o prólogo da Absa Cape Epic, e neste momento já estou no avião a caminho de Lisboa a fazer-vos o rescaldo desta grande aventura.

E de repente ficou o vazio! O meu objectivo anual já está concluído, e ainda só estamos em Março! O que é que eu vou fazer agora?!
Bem, primeiro que tudo tenho que dar um pouco de descanso ao corpo e à mente. Deixar cicatrizar as feridas e fazer tratamento ao braço que continua a adormecer quando faço mais força. Acabar com as privações dietéticas e engordar 5 ou 6 quilos 
Depois tenho vários eventos agendados para o resto deste ano. Caso dos “granfondos” com bicicleta de estrada (Douro, Gerês, Estrela, Lousã e Quebrantahuesos), a Epic Road Challenge, a Epic Portalegre MTB e a Azores Challenge BTT e mais algumas maratonas de BTT em solo nacional.

Quanto a próximas aventuras além-fronteiras, não tenho ainda nada definido. Não sei se voltarei a fazer uma Cape Epic, pois o investimento em tempo e dinheiro é muito grande. Na mesma situação está a Brasil Ride. Ou seja, terá que ser muito bem ponderado, e analisada a viabilidade de tais participações. 
Resta-me agradecer às pessoas que tornaram possível mais esta aventura. Não só as que estão por detrás das empresas/marcas patrocinadoras, mas também os amigos e anónimos que viabilizaram o orçamento desta nossa participação através do crowdfunding. 

Agradecimento especial à minha família, à GoldNutrition, à BIKE ZONE, à Scott Portugall, à BBB Cyclingl, à Fullwear Equipamentos de Ciclismo, à Ciclo Coimbrões, LDA, ao H2otel Congress & Medical SPA, à Fisiotorres Lda, à SPEEDSIXCompressport Portugal, aos amigos, Romão da Luz, Sonya Alves, Rui Afonso, Miguel Coelho e restante comunidade portuguesa na África do Sul.
E a todos vós que são uma das principais razões para eu continuar a pedalar.
OBRIGADO e até à próxima.

domingo, 22 de março de 2015

"Kaputaaaa!!"

Amigos, a aventura da Absa Cape Epic está a chegar ao fim. Só falta o jantar de encerramento, no qual vamos subir ao pódio pela 4ª vez, para receber o troféu do 3º lugar na etapa. 
Gostaríamos que fosse para receber um outro prémio, mas o desporto é assim mesmo.
Deixo-vos aqui alguns momentos de hoje, e que me vão ficar na memória para sempre.
Tive que encurtar muito o video porque a net aqui no hotel é MUITO lenta.
Não sei se conseguirei fazer hoje a crónica. Mas prometo que a faço nos próximos dias smile emoticon
Obrigado a TODOS pelo apoio, não só durante estes oito dias de prova, mas durante todos estes meses que levei a preparar esta aventura.
KAPUTAAAA!!! wink emoticon




sábado, 21 de março de 2015

Dia #7 - "A etapa Disneyland"


A contrastar com o dia de ontem, hoje fomos acordados com o som da chuva a cair nas nossas tendas. Caramba, não gosto de pedalar à chuva, ainda mais hoje que íamos ter 30km de singletracks, e regra geral, singles são sinónimo de pedra ou raízes molhadas Ou seja, um filme de terror para mim!
Começámos a etapa à chuva. Menos mal que a água não era muito fria. Os primeiros quilómetros, como tem sido habitual, foram feitos a alta velocidade. Todos queriam entrar bem colocados nos primeiros singles. Felizmente para mim e para o Zé, que o terreno estava pesado e era ligeiramente a subir. Assim temos mais facilidade em andar lá na frente. Com cerca de 20 minutos de etapa alcançámos a Team Merida (Jose Hermida e Van Houts). O Hermida não ia nada bem. Possivelmente não terá recuperado dos 121km de ontem. É um dos melhores betetistas do mundo, mas a sua especialidade são as provas de XCO (cross) de apenas um dia. Bem, um dia já posso dizer aos meus netos que passei pelo Hermida e ele nem aguentou o meu ritmo 
Eu e o Zé fomos sempre no nosso ritmo. Quando o terreno empinava, passávamos sempre por mais um par de equipas. Isto até começarem os singletracks. Tinha noção que quando entrássemos nos trilhos mais sinuosos e apertados iriamos ser alcançados por muitas equipas. Mas também, não tínhamos intenção de arriscar nada. O terceiro lugar está a uma distância de mais de 45 minutos, e a equipa que está atrás de nós, em quinto, idem.


Por volta do km20 entrámos no primeiro troço de singletrack. Á entrada tinha uma placa com a inscrição “Rollercoaster” (montanha russa). Só o nome já me assustava!
Mas sabem uma coisa? Foram 5km de pura diversão. Adorei! Um trilho apertado no meio de um bosque, em terra batida, com imensas curvas, mas quase todas elas com apoio lateral. Alguns saltos á mistura e meia dúzia de raízes. Era tão bom que todos os singles fossem assim! Tinha plena noção que não ia a andar nada de especial, mas para mim foi adrenalina total. Aliás, ficou confirmado que não íamos a andar nada porque de repente ouvimos um barulho de bike atrás de nós. Sabem quem era? José Hermida e seu colega. Eu na brincadeira para o Zé: “Cá para mim atalharam!”.
Uma das razões porque não gosto de fazer singles é porque me começam a pressionar para andar mais rápido ou porque querem passar e eu não consigo me desviar. Mas o Hermida manteve-se sempre calmo e sereno. Deixou-nos terminar este tramo na frente, sem pressões. Assim que acabou este trilho, começou uma subida, e a Team Merida ficou novamente para trás. Mas sabia que eles iriam voltar 
Depois deste primeiro “rollercoaster”, fomos apanhando mais uma série deles, intercalados com estradões no meio das vinhas desta zona. Alguns estradões estavam com uma camada de lama que parecia cola. Mas era nestes momentos, em que era necessário mais força de pernas e braços, que conseguíamos nos aproximar das equipas que seguiam à nossa frente, nomeadamente a segunda e terceira equipa master. Os líderes, hoje, nunca chegamos a vê-los.
Dos 30km de singles que percorremos hoje, talvez uns 2-3 km eram em pedra! Como eu os detesto!
Mas houve para todos os gostos. A descer no meio do pinhal, a subir muitas vezes com mais de 20% de inclinação, alguns impróprios para quem sofre de vertigens e outros desenhados a lápis e papel com pontes de madeira a compor a imagem. Parecia a Disneyland! 
Claro que num destes troços fomos novamente apanhados pela Team Merida, mesmo antes de entrar no single mais técnico, em pedra, abrimos para o lado e os deixámos passar. Nunca mais os vimos!  O Zé depois contou-me que o Hermida ia atrás dele e só lhe dizia: “No frenes, no frenes!” (não traves). Lol
Lá seguimos o nosso ritmo, desta vez sem ninguém atrás a pressionar-mos para andar mais depressa. A cerca de 15km da chegada, começamos a avistar a 3ª equipa master. Um deles não ia nada bem. Passámos por eles na última subida desta etapa, mesmo antes do último singletrack. Ok, por mais tempo que lhes ganhássemos hoje nunca iriamos colocar em risco o lugar deles no pódio, mas pelo menos podíamos tentar fazer 3º em mais uma etapa. Bem, aqueles 5kms de single a descer no meio de um pinhal, parecia o irmão no Hermida (não sei tem um)!! Transformei-me! Só estava com receio que algum pinheiro se colocasse à minha frente! tongue emoticon
O Zé que costuma ser mais rápido que eu em zonas técnicas deixou de me ver. Num instante ganhámos tempo suficiente para chegarmos á meta em terceiro lugar na categoria Master. Nos últimos 5 km ainda apanhámos uma equipa elite.


Não é que seja nada de especial, mas este terceiro lugar na etapa, que nem sequer era talhada para nós, serve de prémio de consolação por todos os azares que temos tido. E vem demonstrar que um lugar no pódio da prova de BTT mais importante do mundo poderia estar ao nosso alcance.
Mas o BTT é isto mesmo. Azar de uns, sorte de outros.
Amanhã é o último dia. Faltam 87km com 1500 metros de subida acumulada. Acredito que estes kms vão-me custar a passar. Como se costuma dizer, estou preso por arames. Aliás, está a maioria. No acampamento só se vêm participantes com ligaduras e bandas kinesio. Na enfermaria já há filas de espera a toda a hora.
No meu caso é o braço direito que fica dormente quando faço mais força, a zona lombar bastante massacrada, e o joelho esquerdo a precisar de uma pintura.
Também já estou farto de acampar! Não vejo a hora de dormir numa cama a sério e descansar num quarto que não pareça um forno.
Agora vou lavar a roupa. Até já 
Na primeira foto, com o Miguel Coelho e o Rui Afonso. Dois tugas a residir em Joanesburgo e que nos têm dado um apoio fantástico! Obrigado Amigos.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Dia #6 - "Queda de José Rosa e pódio mais distante"


Ainda na crónica de ontem tinha escrito que a Absa Cape Epic é muito mais que lugares no pódio, é uma experiência para a vida.

Pois bem, hoje está a ser um dia rico em novas experiências. Há quem diga que nós portugueses somos um povo pessimista por natureza. Sinceramente tenho a tendência para ser pessimista. Acho que é um mecanismo de defesa, pois assim estou sempre preparado para o pior. Mas até acho que os portugueses regra geral são optimistas. Não existe o velho ditado: “podia ser sido pior”?
Pois bem, hoje podia ter sido pior.
Os primeiros quilómetros da etapa de hoje eram planos. Alguns troços em pedra solta intercalados com outros em asfalto. Mas sempre com muito pó à mistura. A velocidade, como já é habitual, é sempre a top! 30-40km/h em cima de uma BTT muitas vezes com um piso tão instável que até parece querer sair debaixo de nós.
Eu e o Zé tentamos sempre estar o mais à frente possível, para que a visibilidade seja melhor e assim evitarmos as quedas. Ironia do destino, hoje queda deu-se nos primeiros lugares do pelotão, e no asfalto! E o Zé foi um dos envolvidos! E isto com apenas 15 minutos de etapa!
Eu ia no outro lado do pelotão e só me apercebi que tinha havido uma queda, não reparei que o Zé estava lá. Mas uns segundos depois olhei para trás para conferir e vi o meu colega a levantar-se do chão! Deixei o pelotão ir embora e esperei por ele. Ele de imediato me avisou que a bicicleta não estava em condições. Por incrível que pareça a primeira coisa que a maioria dos ciclistas confere depois de uma queda é se a bicicleta está em condições de prosseguir. Só depois vê se sofreu algum ferimento.
Da facto a Scott tinha ficado maltratada. O tubo que passa o óleo para o travão de trás estava cortado, logo, sem travão. A roda de trás estava num oito, o desviador da mudança estava também torto, e as duas grades de bidão estavam partidas.



De imediato começámos a consertar o que podia ser consertado ali, na berma da estrada. Endireitámos a mudança à força de mãos e desempenámos a roda, pelo menos o suficiente para não tocar no quadro da bicicleta. Em relação ao travão, não havia nada a fazer! Teve que fazer os cerca de 110km de etapa que ainda faltavam, apenas com o travão da frente a funcionar. Estivemos cerca de 20-25 minutos parados. O suficiente para que quase todos os participantes (1200) passassem por nós.
Só depois quando já íamos em andamento é que começámos a avaliar os estragos no corpo do Zé. Várias escoriações pelo corpo, os calções rasgados, mas era o cotovelo direito que estava mais maltratado. Com o passar dos quilómetros começou a inchar cada vez mais.
A partir deste momento tínhamos uma nova aventura pela frente. Terminar aquela que era considerada a etapa rainha desta edição da Absa Cape Epic, apenas com o travão da frente, uma roda traseira empenada e o Zé com a “chapa e pintura” a precisar de manutenção. 
Sabíamos que era completamente impossível recuperar todo aquele tempo perdido. O grupo da frente não espera por ninguém. E nós ainda tínhamos um outro obstáculo pela frente. Conseguir ultrapassar as centenas e centenas de participantes que não estão com pressa ou que não têm capacidade para andar mais rápido. E logo por azar ou coincidência, a etapa hoje tinha imensos trilhos que não dava para fazer ultrapassagens. Foi preciso muita paciência e equilíbrio, acreditem.
Hoje vimos com os nossos olhos a razão pelo qual participantes demoram 8 a 10 horas para fazer aquilo que outros demoram apenas umas cinco. Subir à velocidade que muitos sobem é preciso mesmo muito equilíbrio. Vimos inclusive alguns a cair em plena subida!
Pouco a pouco fomos passando equipas, sempre que havia algum espaço para fazê-lo em segurança. A subir passávamos 10-20 equipas, depois a descer éramos passados por 5. O Zé só com o travão da frente não conseguia controlar a bicicleta. Tinha que descer muito devagar.
Quando chegámos ao primeiro abastecimento, ao km40, os enfermeiros "entraparam" o braço do Zé. Estava muito inchado e fazia-lhe confusão a trepidação da bicicleta.
E já que estávamos atrasadíssimos, "perdido por 100 perdido por 1000". Aproveitámos para desfrutar com mais calma a comida que a organização disponibiliza nas zonas de abastecimento.
Nos outros dias não parávamos nem 20 segundos. Era encher o bidão, agarrar 1 ou 2 bolos secos e arrancar ainda com eles na mão (os bolos).
Pois hoje encostámos as bicicletas a um muro, e com mais calma víamos o que nos tinham para oferecer. Vários tipos de bolos com frutos secos, fruta, barras energéticas, tâmaras secas, nougat de amêndoas, gomas, bebidas, ... Muito completo! Grande barrigada! Ainda mais que não tinha comido nada até ali.
Ah, mas ainda antes de chegar a essa primeira zona de abastecimento, fizemos algumas descidas com bastante pedra. Quando assim é, muitos bidões saltam das bicicletas. O meu foi um deles. Quando reparei que tinha perdido o meu, a solução que me lembrei foi apanhar um outro do chão, também perdido por um participante que já tinha passado por aquele local. Quando cheguei ao abastecimento, lavei-o, enchi-o com bebida isotónica e siga, já não morria à sede 
O ritmo que impusemos até final da etapa não foi o mesmo dos dias anteriores. Primeiro porque estávamos algo desmoralizados, depois porque o Zé não podia arriscar nas descidas e depois porque tínhamos sempre ciclistas mais lentos para ultrapassar. Perdemos a conta ao número de equipas que passámos!
Os dorsais que levamos nas costas têm a bandeira da nação de cada participante. Hoje vi muitas bandeiras que ainda não tinha visto nesta prova. Israel, Andorra, Ilha de Man, Roménia, República Dominicana, etc., etc.
Pelo caminho não falámos muito. Quando falávamos era para dizer mal do percurso. Mais um dia de pó, areia e pedra com fartura. Em jeito de brincadeira até disse que este ano não ia fazer férias na praia, pois já estava farto de areia.
Bem, para encurtar a crónica - até porque um dos problemas de estarmos a viver em tendas, é não termos onde nos encostarmos. Assim é desconfortável estar a teclar - concluímos os 121km desta etapa com o tempo recorde de 6h46. Este passou a ser o meu recorde de máximo tempo agarrado a uma BTT. Foi uma overdose de BTT!
Mais tarde e por curiosidade, fui ver as classificações. Qual o meu espanto que mesmo com uma hora e 9 minutos perdidos para a equipa master que chegou hoje em primeiro, ainda conseguimos conservar o quarto lugar! Mas claro que agora o pódio fica definitivamente longe do nosso alcance.
O objectivo para as duas etapas que faltam é “simplesmente” terminar. E coloco o “simplesmente” entre aspas porque terminar uma aventura como a Absa Cape Epic já vimos que não é assim tão simples! Muitas equipas hoje não conseguiram chegar dentro do horário estabelecido pela organização.
Até amanhã.
Fica aqui o video com a queda do José Rosa. Em dois ângulos e tudo. Querem melhor? smile emoticon

quinta-feira, 19 de março de 2015

Dia #5 - "A Cape Epic não vive só de lugares no pódio"



Estamos a cumprir o 5º dia de Absa Cape Epic 2015. 

Se fosse a Andalucia Bike Race amanhã seria a última etapa. Mas não é! Além de mais dois dias, as etapas são bem mais longas. 
Em apenas 5 dias, e em que no primeiro foi apenas um prólogo de 20km, já levamos (eu e o José Rosa) 22 horas a pedalar! E se por um lado eu me queixava que a ABR era muito técnica e até perigosa, pelo que vi até ao dia de hoje, a Cape Epic é diferente. Não é muito técnica, não é perigosa, mas é mais dura!
Raramente passamos por trilhos perigosos, e quase todos eles cicláveis, tanto a descer como a subir. As vezes que transportei a bike à mão foi sobretudo em trilhos com muita areia solta. Aliás, se me perguntarem o que é que mais me lembro destas etapas que já fizemos, eu diria: pó, areia e single-tracks. Se bem que a etapa dos singles foi sobretudo a segunda. Uma etapa espetacular!
Hoje foi o oposto. Diria até que hoje foi a “shit stage”. Daquelas que não interessam nem ao menino Jesus. O cenário foi basicamente pedra, areia e pó. Houve momentos que não via um palmo á minha frente. Comi mais pó hoje que todas as outras etapas juntas. Um pó e areia tão finos que entravam pela fina rede dos sapatos. A meio da etapa já quase não tinha espaço dentro dos sapatos para esticar os dedos. Por vezes tentava puxar a areia da frente do sapato para debaixo do pé com o meu dedo grande. Ainda comecei a pensar se me teria esquecido de alguma coisa dentro dos sapatos!
Também tive que tirar os óculos e colocar no bolso da Jersey, pois o suor misturado com o pó impedia completamente a sua utilização. Se calhar a única coisa que me agradou nesta etapa, além de ver a meta, foi ter visto dois rinocerontes mesmo ao nosso lado. Que bichos!!
Depois da queda aparatosa que sofri ontem, estava preocupado com o estado do meu joelho. Na expectativa se ele iria resistir a tanta dureza. Como é habitual, a partida foi dada a todo o gás. Os primeiros 10km eram planos, mas com imensa pedra solta. Pedras redondas e polidas do tamanho de bolas de ténis. No grupo da frente rolávamos a mais de 35km/h por cima delas. Parecia que estávamos a fazer equilíbrio em cima de berlindes gigantes! Que sofrimento para não perder esse grupo! O joelho custava a dobrar. Mas assim que aqueceu, passou  Ufa!
O problema foi mesmo as muitas chicotadas que levei no joelho ferido, de ramos e arbustos durante toda a etapa. Parecia que estava a ser castigado!
Mas normalmente é no dia a seguir a cairmos que conseguimos avaliar os estragos. Quando começou a primeira subida, por volta do km15, comecei a sentir o meu braço direito dormente. Desde o ombro até aos dedos das mãos. Na queda terei lesionado um nervo, ou então algo que está a comprimi-lo. A subir só conseguia fazer força com o braço esquerdo, e tinha dificuldade em rodar o punho das mudanças. Quanto mais força fazia (e faço) mais ele fica dormente.
A certa altura avisei o Zé Rosa para deixarmos ir o grupo onde seguíamos. Seria o segundo pelotão. Na frente iam os pros, e depois seguíamos nós com alguns elites e as 3 equipas master que estão á nossa frente na classificação. Infelizmente não estava mesmo em condições de seguir aquele ritmo!


A meio da etapa fomos apanhados pela equipa feminina líder. Só vos digo uma coisa. Que andamento estas duas meninas têm!! Estamos a falar de duas raparigas que fazem nos 30 primeiros da classificação GERAL (homens elites incluídos)!! As duas juntas não terão mais que 90 quilos. Com um ritmo sempre muito certinho, cadência muito leve a subir, e a voar baixinho a descer. O Zé até comentou: “O que é que elas comerão ao pequeno-almoço?”
Fizemos o resto da etapa com elas. Confesso que nas descidas mais técnicas via-me a aflito para seguir o ritmo delas. Mas o orgulho fez-me fechar os olhos algumas vezes e tirar as mãos dos travões  Na última descida da etapa, uma delas espalhou-se, levantou-se quase de imediato mas acabaram por chegar uns 3 minutos atrás de nós.
Em todas as provas de BTT por etapas que fiz até ao momento (Titan Desert, Transportugal, Transalp, Brasil Ride, Andalucia Bike Race), só na Transalp e na Andalucia fui sem objectivos de classificação. Simplesmente para desfrutar ou treinar. Mesmo assim ganhámos a Andalucia Bike Race.
Para a Absa Cape Epic viemos com o objectivo de lutar por um lugar no pódio, mas já deu para ver que em condições normais, ou seja, se não houver grandes azares com as 3 primeiras equipas, esse objectivo não será alcançado! As duas primeiras equipas são muito completas, ou seja, sobem bem, não tanto como nós, mas por outro lado têm uma técnica muito superior à nossa. Em descidas e singles eles simplesmente desaparecem! Em relação à terceira equipa, formada por um antigo ciclista de estrada bem conhecido dos portugueses que acompanharam o ciclismo do meu tempo (anos 90) – Daniele Nardello, e pelo francês Karl Zoetemelk, não me parece que sejam em nada superiores a nós, mas a minha queda de ontem afastou-nos quase irremediavelmente do 3º lugar do pódio.
Não desejo mal a ninguém, portanto não vou ficar à espera que uma das equipas tenha alguma infelicidade. Costumo dizer que os piores lugares numa classificação, são o segundo e o quarto. O segundo porque foi o primeiro a perder, e o quarto porque foi o primeiro a ficar fora do pódio. Portanto, não me vou preocupar em defender o quarto lugar, mas claro que também não vou fazer nada para o perder. Irei dar sempre o meu melhor, mesmo sabendo que neste momento o meu melhor não é suficiente para conseguir o objectivo inicialmente proposto. 
Mas a Cape Epic não vive só de lugares no pódio. É uma experiência de vida inesquecível! Mesmo que seja só uma vez! Os que terminarem esta aventura vão sair daqui mais fortes, sobretudo a nível mental, e com muitas histórias para contar. Pois bem, contem comigo para contar algumas dessas histórias. Infelizmente ainda não consegui arranjar um novo suporte para a minha câmara de filmar frown emoticon
Até agora falei muito pouco da estrutura e organização deste que é considerado o evento de BTT mais importante e mediático do mundo. Posso dizer e tendo sempre em conta que somos 1200 participantes (de mais de 60 países), que não consigo apontar muitos pontos negativos ou falhas. A comida não é nada de especial, mas não passamos fome. Os pequeno-almoços consistem em cereais, papas de aveia e pão de forma.


O jantar em lasanha de frango (quase todos os dias) e carne de borrego ou de vaca estufadas, com arroz ou batata.
Também há sempre fruta e algum bolo ou pudim.



Em relação a bebidas, a água pelo menos é de borla  As restantes é a pagar.
No final de cada etapa recebemos de imediato um saco com o nosso lanche. Um milkshake, uma sandes, um icetea e uma peça de fruta. A isto junto sempre um Fast Recovery.
As tendas individuais têm tamanho suficiente para dormirmos lá dentro e colocar os nossos pertences. Se bem que durante o dia não se consegue estar lá dentro, tal o forno! Para descansarmos durante o dia temos várias zonas “chill out” com cadeirões, cadeiras, mesas, colchões, e onde existem algumas tomadas para carregarmos os nossos aparelhos elétricos. Neste aspecto poderia haver mais. É sempre uma guerra para arranjar uma tomada. Felizmente como somos das primeiras equipas a chegar, conseguimos com mais facilidade 
Cabines de WC existem também bastantes, e muito asseadas. Há sempre um funcionário com uma esfregona na mão. Em hora de ponta, ou seja, entre as 5 e as 7 da manhã, não esperamos mais que 3 minutos para conseguir uma cabine livre.
Os duches também não são problema. Como os atletas vão chegando das etapas em conta gotas, há sempre cabines de duche disponíveis, e com água quente. Se bem que com estas temperaturas só apetece água fria. Até eu que sou friorento.
A organização encarrega-se da lavagem das bikes. Ok, tiram o maior. Depois temos sempre que passar um pano e lubrificar. Com a roupa passa-se o mesmo. Colocamos a roupa da etapa num saco, disponibilizado pela organização, e entregam-na lavada no dia seguinte. Bem, alguma dela temos que a lavar novamente, mas é sempre melhor que a lavarmos toda 
Em conversa com os restantes tugas, durante o jantar de hoje, falámos na quantidade de colaboradores, funcionários, etc. No mínimo 500, mas não me espanta que sejam mais de mil.


A Cape Epic, não é uma prova perfeita, mas a máquina já está oleada. Esta é já a 12ª edição.
Não podemos esquecer que cada inscrição custa cerca de 4 mil euros (por dupla). Quem paga este valor deverá exigir uma qualidade correspondente. Não fazem mais que a sua obrigação.
Não comprámos o serviço de mecânica. Sinceramente sentimos falta. As nossas bikes já têm ruídos em tudo quanto é parafuso  Só para terem uma ideia, as equipas profissionais (Merida, Specialized, Scott, Bulls, Centurion, ...) desmontam as bicicletas, lubrificam e colocam pneus novos, TODOS OS DIAS!
Nós por outro lado, rezamos para que um par de pneus aguente os 8 dias de provas tongue emoticon
Por outro lado, achámos importante adquirir o pacote (serviço) de massagem. Todos os dias somos massajados durante 45 minutos, sobretudo pernas e zona lombar. O que mais sofre no BTT. As massagens são feitas por jovens sem grande experiência, mas é melhor que nada.

Um denominador comum é a simpatia de todo o staff. Sempre disponíveis e com um sorriso nos lábios.
Amanhã será mais uma etapa bem longa (117km) e quente (prevê-se 32ºC). Só espero que o meu braço esteja melhor e que não haja tanto pó, pois não tem mesmo piada nenhuma.
Como a chegada é em outra localidade, vamos ter que preparar os nossos sacos para os entregar à organização, amanhã a seguir ao pequeno-almoço, que como tem sido habitual, será às 5h15.
Vai ser bonito quando chegar a Portugal! Vou acordar às 2h30 da madrugada com fome, vou querer jantar às 16h00 e dormir às 19h00, lol
Até amanhã.





quarta-feira, 18 de março de 2015

Video - 2ª Etapa - "Os singles"

Dia #4 - "This is Cape Epic!"

Sobrevivemos à etapa mais longa da Absa Cape Epic 2015. 
Uma etapa mais ao nosso jeito, em que a capacidade física era mais importante que a técnica. Ironia do destino foi a que tivemos mais problemas! Quando íamos na liderança da categoria Master, primeiro o Zé Rosa fica "abraçado" a uma vedação de arame farpado, depois a rosca que aperta do disco do travão de trás desaperta-se e fez toda a etapa assim. E por fim eu, a faltar cerca de 30km para o final, dou um trambolhão de todo o tamanho, num estradão em terra batida a cerca de 40km/h!

Braços esfolados, joelho muito maltratado, mas desta vez foi o esquerdo, mas pior que tudo e à semelhança da minha queda na Andalucia Bike Race, bati com o meu "abono de família" em algum lado ao ponto de ficar uns 5 minutos agarrado a ele e só a dizer "ai, ai!". Entretanto lá melhorei e arrancámos de novo. Mas entretanto somo apanhados pela 3 primeiras equipas Master. A minha preocupação naquele momento era se tinha tudo inteiro e a funcionar tongue emoticon Estava-me pouco lixando para a classificação ou a vitória na etapa. Mas lá me recompus um pouco e seguimos até ao ultimo ponto de abastecimento. Aí lavei um pouco as feridas, sobretudo o joelho. e já consegui terminar a etapa. Espero que não seja nada grave!
A etapa era duríssima, os 30ºC que fazem deram uma ajuda. Subidas com mais de 20% de inclinação, muita pedra solta a subir e a descer. Ah, e em relação a areia, posso dizer que a Titan Desert (Marrocos) ao pé da Cape Epic é uma menina! Tanta areia apanhámos hoje!! Andei demasiado tempo com a bicicleta à mão.
Por incrível que pareça, e mesmo com estes percalços, subimos lugares na classificação geral. Não é que isto me interesse, mas significa que muitos atletas já começam a ficar "maduros" smile emoticon
This is Cape Epic!