sábado, 21 de março de 2015

Dia #7 - "A etapa Disneyland"


A contrastar com o dia de ontem, hoje fomos acordados com o som da chuva a cair nas nossas tendas. Caramba, não gosto de pedalar à chuva, ainda mais hoje que íamos ter 30km de singletracks, e regra geral, singles são sinónimo de pedra ou raízes molhadas Ou seja, um filme de terror para mim!
Começámos a etapa à chuva. Menos mal que a água não era muito fria. Os primeiros quilómetros, como tem sido habitual, foram feitos a alta velocidade. Todos queriam entrar bem colocados nos primeiros singles. Felizmente para mim e para o Zé, que o terreno estava pesado e era ligeiramente a subir. Assim temos mais facilidade em andar lá na frente. Com cerca de 20 minutos de etapa alcançámos a Team Merida (Jose Hermida e Van Houts). O Hermida não ia nada bem. Possivelmente não terá recuperado dos 121km de ontem. É um dos melhores betetistas do mundo, mas a sua especialidade são as provas de XCO (cross) de apenas um dia. Bem, um dia já posso dizer aos meus netos que passei pelo Hermida e ele nem aguentou o meu ritmo 
Eu e o Zé fomos sempre no nosso ritmo. Quando o terreno empinava, passávamos sempre por mais um par de equipas. Isto até começarem os singletracks. Tinha noção que quando entrássemos nos trilhos mais sinuosos e apertados iriamos ser alcançados por muitas equipas. Mas também, não tínhamos intenção de arriscar nada. O terceiro lugar está a uma distância de mais de 45 minutos, e a equipa que está atrás de nós, em quinto, idem.


Por volta do km20 entrámos no primeiro troço de singletrack. Á entrada tinha uma placa com a inscrição “Rollercoaster” (montanha russa). Só o nome já me assustava!
Mas sabem uma coisa? Foram 5km de pura diversão. Adorei! Um trilho apertado no meio de um bosque, em terra batida, com imensas curvas, mas quase todas elas com apoio lateral. Alguns saltos á mistura e meia dúzia de raízes. Era tão bom que todos os singles fossem assim! Tinha plena noção que não ia a andar nada de especial, mas para mim foi adrenalina total. Aliás, ficou confirmado que não íamos a andar nada porque de repente ouvimos um barulho de bike atrás de nós. Sabem quem era? José Hermida e seu colega. Eu na brincadeira para o Zé: “Cá para mim atalharam!”.
Uma das razões porque não gosto de fazer singles é porque me começam a pressionar para andar mais rápido ou porque querem passar e eu não consigo me desviar. Mas o Hermida manteve-se sempre calmo e sereno. Deixou-nos terminar este tramo na frente, sem pressões. Assim que acabou este trilho, começou uma subida, e a Team Merida ficou novamente para trás. Mas sabia que eles iriam voltar 
Depois deste primeiro “rollercoaster”, fomos apanhando mais uma série deles, intercalados com estradões no meio das vinhas desta zona. Alguns estradões estavam com uma camada de lama que parecia cola. Mas era nestes momentos, em que era necessário mais força de pernas e braços, que conseguíamos nos aproximar das equipas que seguiam à nossa frente, nomeadamente a segunda e terceira equipa master. Os líderes, hoje, nunca chegamos a vê-los.
Dos 30km de singles que percorremos hoje, talvez uns 2-3 km eram em pedra! Como eu os detesto!
Mas houve para todos os gostos. A descer no meio do pinhal, a subir muitas vezes com mais de 20% de inclinação, alguns impróprios para quem sofre de vertigens e outros desenhados a lápis e papel com pontes de madeira a compor a imagem. Parecia a Disneyland! 
Claro que num destes troços fomos novamente apanhados pela Team Merida, mesmo antes de entrar no single mais técnico, em pedra, abrimos para o lado e os deixámos passar. Nunca mais os vimos!  O Zé depois contou-me que o Hermida ia atrás dele e só lhe dizia: “No frenes, no frenes!” (não traves). Lol
Lá seguimos o nosso ritmo, desta vez sem ninguém atrás a pressionar-mos para andar mais depressa. A cerca de 15km da chegada, começamos a avistar a 3ª equipa master. Um deles não ia nada bem. Passámos por eles na última subida desta etapa, mesmo antes do último singletrack. Ok, por mais tempo que lhes ganhássemos hoje nunca iriamos colocar em risco o lugar deles no pódio, mas pelo menos podíamos tentar fazer 3º em mais uma etapa. Bem, aqueles 5kms de single a descer no meio de um pinhal, parecia o irmão no Hermida (não sei tem um)!! Transformei-me! Só estava com receio que algum pinheiro se colocasse à minha frente! tongue emoticon
O Zé que costuma ser mais rápido que eu em zonas técnicas deixou de me ver. Num instante ganhámos tempo suficiente para chegarmos á meta em terceiro lugar na categoria Master. Nos últimos 5 km ainda apanhámos uma equipa elite.


Não é que seja nada de especial, mas este terceiro lugar na etapa, que nem sequer era talhada para nós, serve de prémio de consolação por todos os azares que temos tido. E vem demonstrar que um lugar no pódio da prova de BTT mais importante do mundo poderia estar ao nosso alcance.
Mas o BTT é isto mesmo. Azar de uns, sorte de outros.
Amanhã é o último dia. Faltam 87km com 1500 metros de subida acumulada. Acredito que estes kms vão-me custar a passar. Como se costuma dizer, estou preso por arames. Aliás, está a maioria. No acampamento só se vêm participantes com ligaduras e bandas kinesio. Na enfermaria já há filas de espera a toda a hora.
No meu caso é o braço direito que fica dormente quando faço mais força, a zona lombar bastante massacrada, e o joelho esquerdo a precisar de uma pintura.
Também já estou farto de acampar! Não vejo a hora de dormir numa cama a sério e descansar num quarto que não pareça um forno.
Agora vou lavar a roupa. Até já 
Na primeira foto, com o Miguel Coelho e o Rui Afonso. Dois tugas a residir em Joanesburgo e que nos têm dado um apoio fantástico! Obrigado Amigos.

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