segunda-feira, 2 de março de 2015

Andalucia Bike Race - "Missão mais que cumprida"

E terminou a minha primeira aventura em BTT de 2015. Nada mais nada menos que a Andalucía Bike Race, já famosa por ser uma das mais exigentes da Europa, a nível físico e técnico.
Foram 6 etapas em 6 dias, totalizando 420km e 13.885 metros de desnível positivo acumulado, qualquer coisa como subir umas 10 vezes da Covilhã ao alto da Torre em BTT. Se juntarmos a todas estas subidas, o facto de muitas das descidas serem também bastante exigentes fisicamente, sobretudo para um individuo que já não fazia BTT a sério desde Outubro de 2013, quando participei na Brasil Ride, isto tudo junto é sinónimo de um “tratamento” que tão cedo não irei esquecer!


Acreditem que saí bem mais desgastado, física e mentalmente, destes 6 dias de ABR que dos 12 dias de Volta a Portugal em que participei o ano passado!
Ontem cumprimos a última etapa. Com a extensão de apenas 55km e cerca de 1300 metros de subida acumulada. O que dificultou mais esta etapa foi o facto de já termos 5 dias nas pernas, e a exigência técnica de alguma descidas e subidas, sobretudo em terreno rochoso. O cansaço físico e psíquico é tal que torna a nossa reação, agilidade e até poder de decisão bem mais lentos. Os erros e as quedas sucedem-se com mais frequência. Felizmente o terreno estava seco, senão seria mais um filme de terror!
A equipa GoldNutrition/Portugal, ou seja, eu e o José Rosa, bastava concluir esta etapa, sem problemas graves, para vencermos a classificação Master-40.
Os cerca de 45 minutos que tínhamos de vantagem para a segunda equipa – os espanhóis da Buff – permitia-nos dar ao luxo de fazer esta etapa em ritmo de passeio. Eu tinha total noção disso, tanto que nesta etapa e já na anterior, tinha deixado o “chip de competição” no quarto do hotel!
Ainda tinha bem gravado na memória as minhas duas quedas na Brasil Ride 2013, a última delas, na quarta etapa, obrigou-me a desistir com a jersey (azul) de líder envergada. Só não queria que esta situação se voltasse a repetir!
Fiz todas as descidas e trilhos mais técnicos com “pezinhos de lã”. Tenho noção que até metia raiva a muitos participantes que queriam passar por mim e não conseguiam. Aliás, até me metia raiva a mim! Mas eu facilitava sempre que podia. Encostava para o lado e: “Passem, passem, que eu não tenho pressa!”
Por outro lado o meu companheiro era o oposto. Comportava-se como se tivéssemos necessidade de ganhar ainda mais tempo aos adversários, ou de ganhar todas as etapas (já tínhamos vencido as 4 primeiras).
“Zé, calma!!”, “Zé, deixa-os passar!!”, “Zé, não arrisques tanto!”, “Zé, já temos os bilhetes comprados para a África do Sul!”
E o Zé só respondia: “Sim, sim, sem stress!”
Mas caramba, o stressado parecia ele! E no fundo estava. Foi a primeira competição de BTT por etapas do José Rosa. E ainda por cima uma prova com este nível internacional. E mais ainda, com uma camisola de líder envergada, situação que ele nunca tinha experienciado, mesmo com tantos anos de ciclismo de estrada ao mais alto nível!
Se há duas semanas me dissessem que teríamos condições para vencer a ABR, chamaria louco a essa pessoa.
O último estágio que fiz, exatamente neste mesmo local onde me encontro a escrever esta crónica, não correu nada como eu desejaria. Dos 5 dias de estágio na Serra da Estrela, só consegui fazer 2 treinos mais fortes. Esses dois treinos foram feitos na companhia do José Rosa, e não imaginam o que sofri para aguentar o ritmo dele de treino! Respiração muito acelerada, pulso alto, e os watts não apareciam!
Nesse momento foi muito importante os meus anos de experiência. Decidi não insistir e dar tempo ao tempo.
Quando regressei da Serra da Estrela estive quase uma semana sem praticamente treinar, ou então fazia treinos muito suaves de 1h30. Preferia entrar na ABR com falta de treino e de ritmo que já com o motor a verter óleo pelas juntas.
Sabia que ia sofrer nos 6 dias de prova, mas fazia parte do processo de preparação para a Absa Cape Epic, esta sim, a aventura que eu queria e ainda quero estar no melhor das minhas capacidades físicas e psíquicas. Todo o resto está a servir exclusivamente como preparação e não estou minimamente preocupado com a classificação.
Chegámos a Jaén, local onde iria começar a ABR, com 2 dias de antecedência, tempo suficiente para os preparativos e fazermos 2 pequenos treinos de descompressão dos 600km de viagem de carro. Nesses 2 treinos as más sensações continuaram. Ok, confirmava-se, vou mesmo sofrer durante toda a ABR!
Mas logo na primeira etapa fiquei surpreendido com as minhas sensações! Respiração fácil, pernas “soltas” e força nas subidas. Eh lá, temos homem!
Em relação ao José Rosa, sabia que ele estava bem. Tenho sido eu o responsável pela sua preparação física desde Novembro do ano passado. E tenho assistido ao crescendo da sua forma física, e por arrasto, da sua autoconfiança.
Concluída a primeira etapa, tínhamos “metido” mais de 10 minutos à segunda equipa master-40. Foram todos apanhados de surpresa. Eles, e nós!
Então e agora?! Viemos apenas para treinar, mas já somos líderes. Vamos oferecer estas jerseys verdes à segunda equipa, ou vamos á luta?
Sempre ouvi dizer que “mais vale um pássaro na mão, que dois a voar”!
Este assunto nem sequer chegou a ser discutido entre nós. Somos ambos competitivos. A resposta lógica era: “Vamos á luta”.
No final da quarta etapa já estávamos com mais de meia hora de avanço sobre a concorrência. Mas nestes 4 dias passei por fases complicadas. Quedas, cansaço, saturação devido aos demasiados trilhos técnicos e perigosos, pensei inclusive em “deitar a toalha”.
A partir do quinto dia, de uma forma até inconsciente, comecei a poupar-me, não só a nível físico mas também mental. Além do receio de (mais) quedas, o meu joelho também não parava de doer, sobretudo nas etapas mais longas. Neste aspecto, espero que esta dor seja unicamente fruto do traumatismo provocado por esta queda mais recente, e não o avivar da lesão que prejudicou a minha preparação para a Volta a Portugal, no ano passado.
Agora terminada a Andalucia Bike Race, dou-me por satisfeito não ter desistido de lutar pela vitória naquela que é uma das provas mais importantes do calendário internacional de BTT. Com um nível brutal em termos de participantes. Campeões do mundo, olímpicos, 750 participantes de mais de 30 nacionalidades, entre os quais várias seleções nacionais á procura de somar pontos para apuramento para os jogos olímpicos de 2016. Fica no meu palmarés desportivo ao lado das vitórias na Titan Desert 2011 e Transportugal Race 2012 e 1013.
Dizem que foi a ABR com mais nível competitivo e das mais duras até agora. Para nós, Team GoldNutrition/Portugal, valeu-nos sobretudo como um teste/ensaio de equipa para a Absa Cape Epic.
Apesar de conhecer o José Rosa do nosso percurso como ciclistas profissionais, nos anos 90, e inclusive fomos colegas em 93 e 95, nunca tinha sido colega dele em provas de BTT.
Acreditem que é preciso saber gerir hábitos e feitios quando se vive, literalmente, 24 sobre 24h durante vários dias com uma pessoa. Ambas as partes têm que ceder um pouco. O sucesso da equipa depende disso. E é normal com o passar dos dias, e com o cansaço físico e psíquico, haver momentos de exaltação e até de discórdia. Faz parte, mas tem que ser evitado.
Estou convicto que arranjei o parceiro ideal para este enorme desafio desportivo, que é participar na prova mais importante do mundo em BTT, e lutar por um lugar no pódio.
Antes de viajarmos para a Cidade do Cabo, no dia 10 de Março, temos ainda mais um pequeno ensaio. A Algarve Bike Challenge, nos dias 6, 7 e 8 de Março. O objectivo principal será provocar um pequeno estimulo ao nosso corpo, depois da semana de recuperação que vamos agora iniciar.
Ah, e fiquem descansados. Um dos objectivos a que me propus quando decidi participar na Absa Cape Epic, é continuar com esta forma de comunicação que já vos habituei quando participo nestas aventuras. Comecei com a Titan Desert, a Craft Bike Transalp, ambas em 2011. Depois as Transportugal, em 2012 e 2013, a Brasil Ride também em 2013, e agora a Andalucia Bike Race. As crónicas estão garantidas. Em relação aos vídeos dependerá sobretudo da disponibilidade de internet no acampamento da Absa Cape Epic.
Quero aproveitar para agradecer, uma vez mais, a todos os patrocinadores que embarcam incondicionalmente comigo nestas aventuras: GoldNutrition, BIKE ZONEScott PortugalFullwear Equipamentos de CiclismoSPEEDSIXBBB CyclingContinentalCompressport Portugal,Fisiotorres LdaH2otel Congress & Medical SPASeasucker Portugal & España, e todos vós que me motivam para não me estatelar no sofá a fazer zapping na TV wink emoticon

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